quinta-feira, 19 de julho de 2007

Os limites do casamento – uma análise hermenêutica

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Dr. Max and Dr. Simão


Prologo

Ora por desatinos (da minha parte) e claro está, devaneios (da parte do meu ilustre colega), fui deliberadamente desafiado pelo Dr. Dogner a embarcar numa aventura extravagante por um universo desconhecido e estranho mesmo para quem nele se deixa repousar diariamente.

Antes de mais, devo dizer-lhe, meu douto amigo, que não posso deixar de considerar ingrato, em primeiro lugar devido à experiência de V. Ex.ª por este mundo da escrita, que modéstia á parte, é de facto notável, perante a minha pessoa, que para além de eterno romântico em tudo o que escrevo, confino todos os meus dizeres ao fundo daquela gaveta aliada que tanto prezo. Contudo, que fique claro, que não me vou deixar intimidar pela V. sempre única, e um tanto altiva, forma com que se nos dirige, e tanto nos agrada, abraçarei o presente duelo (para não dizer guerra), de braços abertos e ciente que numa batalha semelhante há que saber inovar.

Por outro lado, não bastando a pouca ou nula experiência que tenho, no mundo dos blog’s, em expor-me a nu em qualquer sentido, ainda teria de me entregar de bandeja o privilégio melindroso de iniciar esta verdadeira chicana de desatinos e devaneios debruçados sobre um tema que sempre será polémico e perfeitamente estudado ao logo dos nossos tempos.

Desmistificar o casamento em todos os sentidos da palavra, e principalmente atingir o objectivo de traçar a essência dos limites ao mesmo. Céus, onde estaria eu com a cabeça ao aceitar esta guerra, principalmente se pensarmos que ambos os que aqui se apresentam, não são de facto casados, nem pouco mais ou menos.

Mesmo assim, um bom desafio nunca é de se negar, deste modo, apresento os meus mais calorosos votos de uma boa batalha ao caro amigo, e claro está que desde que não se arranquem orelhas, vale tudo! ;)

Cá vamos então: o casamento VS seus limites!

Antes de tudo o que se possa referir há que ter em conta dois conceitos completamente distintos e no entanto abatidos no mesmo centro.

Definir o casamento, ora se procurarmos num dicionário de língua portuguesa, casamento seria algo como o vínculo estabelecido entre duas pessoas mediante o reconhecimento governamental, religioso e/ou social, que pressupõe uma relação interpessoal de intimidade, cuja representação arquetípica seriam obviamente relações sexuais. Para já não falar nos conceitos subjacentes como o amor, o carinho, companheirismo, entre outros.

Por outro lado temos, e não fossemos nós homens versados na lei, o conceito apresentado pela nossa lei civil que dita no seu artigo 1577.º do Código Civil Português que: “Casamento é o contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida, nos termos das disposições deste Código.”

E, qui sa, não podemos nos, sendo senhores do século XXII, o terceiro milénio D.C. acrescentar algo ao conceito, onde casamento será visto como a relação entre duas pessoas de quem nutre um sentimento de união recíproca, em que os sentimentos dão azo a uma vida em comum de partilha e enlace onde se aliam os desejos carnais com o inqualificável quimera que se baseia no fantasio romanceio que é amar. Isto aliado às doutas palavras de Jean Rostand que nos diz: “Um bom casamento seria aquele em que esqueceríamos, de dia que somos amantes e de noite que somos espososteríamos o resultado da unificação perfeita entre dois seres, uma versão mais platónica da coisa.

Não vamos mais longe, afinal de contas o “casamento é a mais rica aventura humana” ou não?

Se não tens tempo nem oportunidade para consagrar uma dezena de anos da tua vida a uma viagem em volta do mundo para observar tudo o que um circunavegador pode aprender; se te falta, por não teres estudado por muito tempo as línguas estrangeiras, os dons e os meios de te iniciar nas mentalidades diversas dos povos que se revelam aos cientistas; se não pensas em descobrir um novo sistema astronómico que suprima o de Copérnico, bem como o de Ptolomeu - então, casa-te; e mesmo que tenhas tempo para viajar, dons para os estudos e a esperança de fazer descobertas, casa-te do mesmo modo. Tu não te arrependerás, ainda que isso te impeça de conheceres todo o Globo terrestre, de te exprimires em muitas línguas e de compreenderes o espaço celeste; pois o casamento é e continuará a ser a viagem da descoberta mais importante que o homem pode empreender; qualquer outro conhecimento da vida, comparado ao de um homem casado, é superficial, pois ele e só ele penetrou verdadeiramente na existência.Emmanuel Kant, in Considerações sobre o Casamento em Resposta a Objecções.

Bem, mas deixemo-nos de divagações, pois tudo isto já foi discutido e variadas vezes apreciado.

O que realmente nos apraz aqui hoje serão os limites a esse dito “casamento”. Esquecendo o conceito, aquando se fala de casamento, de união, há que esperar no mínimo uma promessa, uma juramento, uma atitude reveladora de mostrar confiança, pois em qualquer relação se espera que reine a confiança, e abarcada a esse pilar, virá o dever de fidelidade.

Sim, esta é a posição que assumo incondicionalmente, e que me prevê ser o ponto mais caótico da presente “guerra”.

A fidelidade, seja ele um assentimento expresso ou tácito é presença fidedigna para a sobrevivência de qualquer relação. No domínio da convivência conjugal ou similar, fica subjacente a necessidade de manter um certo tipo de acordo, chamemos-lhe contrato mesmo, independentemente de se desvendar numa conveniência mútua ou de mútuos interesses, ou até mesmo acomodação, comodismo, medo da solidão o que for, este é deveras um pilar primordial para a sobrevivência em conjunto. Não fosse o respeito “pelo outro” o principal tijolo da fidelidade.

Aquando se é jovem, e a vida nos parece apenas se focar em dois dias que devem a todo o custo ser apreciados e explorados de todas formas e feitios, sei bem do que falo, pois considero-me o típico jovem verdejante, há sempre aquela ideia que a experiência dura e pura é um passo para o conhecimento e amadurecimento, o que para ser verdadeiro até não deixa de ser verdade, contudo há sempre que saber os limites. E não será o principal limite, aquela grandeza constante, da qual outra pode aproximar-se indefinidamente mas sem nunca a atingir, o da fidelidade?

Terei que fazer aqui de advogado do diabo e encostar mesmo entre a espada e a parede: e se for ao contrário? Talvez seja mais fácil consideramos que a fidelidade é, de facto, uma conditio sine qua non da nossa cara-metade, exacto? Então porque não pôr a hipótese de o que esperamos nos é igualmente esperado?

Claro poderia ser refutado com a ideia triste de que: “há relações e relações!” E claro que me vejo obrigado a responder de forma mais, digamos arrogante, mas isso é um perfeito disparate, pois independente do que sentimos do lado de lá esta uma pessoa, que vive, respira e sente como nós, e que merece o nosso respeito, respeito este que numa relação se funde indivisivelmente com a tão falada fidelidade.

Falar nos limites ao casamento, que se consagra numa relação conjunta e pacificamente aceite na maioria das culturas como sendo bilateral, há que, sem duvida alguma, aceitar que a fidelidade é pois o seu princípio basilar.

Que outros limites poderíamos nós considerar superiores a este? Claro existem outros, mas da suma importância que o mesmo assume não creio vir a encontrar argumentos que igualem.

Bem, penso que vou ficar por aqui, até mesmo porque não quero gastar todos os cartuchos, isto é apenas o começo.

Dr. Dohner, diga-me de sua justiça, ou antes, é caso para dizer! Quid iuris!

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