segunda-feira, 23 de julho de 2007

Romantico ou não...

Curioso me sinto, e arrastado por esta capacidade natural e inata da inquiribilidade, comum por variadas espécies animais, e que no ser humano, animal racional, se engendra na necessidade de exploração, investigação e no aprendizado (aos quais se poderiam justamente “casar” à já aclamada contestação, pois que a curiosidade poderá brotar da necessidade de apreciar criticamente um pensamento como o do meu caro), me obrigo a de forma minuciosa a explorar tamanhas doutas considerações que o meu caro amigo tão formosamente teceu.

Mas, de igual modo, todo este meu desejo insaciável de exploração como se de um ventre estrelar, (que de uma imensa nuvem escura somente iluminada pela ténue luz estrelar flutua num espaço vazio e pouco a pouco, em parte por azar e em parte por uma pequena acção gravitacional, a elegante nuvem de gás começa a condensar-se ao redor de um ponto de maior densidade e num processo lento, que pode durar vários milhares de anos, no interior dessa mesma nuvem encontramos uma bola incandescente vinte vezes maior que o sol e cem vezes mais brilhante que o mesmo, onde o calor no seu interior é suficiente para produzir reacções única e indescritíveis dando-se uma verdadeira explosão e acabando assim de nascer uma estrela) se tratasse, imensas, como as gotas de chuva de uma tempestade, são as questões que me suscitam a V. prezada resposta.

Estou certo e perfeitamente sabido, que a maior parte das mesmas seriam tidas por simples pormenores, arestas sem importância que o caro colega me acusaria de usar apenas para atiçar uma peleja que tão cortês se adivinha. Daí que, mesmo movido pelo sentido de admiração, passarei em branco qualquer pragana que não julgue de relevo à presente querela.

Contudo, na qualidade de juristas que “infelizmente somos”, há coisas, caro colega, que devo dizer serem alheias ao meu auto controlo.

Ora intitula V. Ex.ª a V. prezada resposta de “Contestação”. Creio de facto que embora encontre o V. carácter contestatário o mesmo deixa algo a desejar, refugiando-se apenas, por entre pulcras palavras, em conceitos opostos que tenta fundir desmesuradamente como sendo parte de um todo que se cinge ao instinto natural animalisco do ser humano.

Creio que o caro colega desperdiçou tamanhos argumentos que poderiam ser colhidos das minhas palavras desnecessariamente, o que a meu ver o foi intencional, apenas por mera prudência pois que melhor táctica guerrilheira que não testar o inimigo com uma mera apresentação do que lhe espera.

Neste sentido, irei, como me compete, desflorar o ideal apresentado pelo caríssimo, da forma mais concreta e nítida que se prevê necessária para a continuação deste duelo tão digno, não fosse a presença imperante do conceito de “Omerta” siciliano presente em todas ideias que aqui se espelham.

Fui brutalmente, com a sempre presente delicadeza de retórica que tão sabiamente caracteriza o meu caro, bombardeado, mas levemente atingido. Caminhou o amigo, por marés e mares tempestivos que se prendem na minha caracterização simbólica como “quimera e fantasio” do amor, fazendo crer, que nas minhas alegadas “entre linhas”, existisse uma marcante duvida ao fluir mágico de sentimento tão idolatrado por poetas e pensadores ao logo dos tempos.

Creio não ser essa a minha posição, alias controverso seria se assim o fosse, como que alguém capaz de pregar na crença pela entrega total e única a uma pessoa (leia-se de cada vez) afim de preservar o conceito de fidelidade e respeito para com o ser amado, jamais poderia ser “anti-amor”.

Que mais bela prova de amor, senão os meus lábios só tocarem os teus? Que mais bela prova de amor de que o meu corpo só conheca o calor do teu? Que mais bela prova de amor, que o meu coração só bata junto ao teu?” Autor Desconhecido.

Romântico? Sim, confesso, na plenitude do meu ser, creio em simbolismos como o “amor eterno”, o “amor à primeira vista” entre tamanhos outros, que de facto são usados de forma errónea com fins consumistas e buscam por vezes alimentar comportamentos doentios. Contudo, meu caro, que bem na vida existe que não tenha duas faces como uma moeda? Em que a beleza se alia à negativismo do seu excesso.

Porquanto, aclamar-me ou não romântico em tamanha discussão não creio ter sentido algum ou importância. Pois se em momento algum assim me afirmei, e não me vendo ter falhado em abstrair-me desse meu sentido, um tanto “platónico”, poder-se-á dizer, indirectamente o meu caro, fez questão de me proclamar de eterno romântico.

Creio no amor, é um facto, creio no respeito, outro o é, e creio que quando se tem alguém do nosso lado merecedor do nosso amor, há então que respeitar, e dai que a fidelidade seja um pilar a esta ideia.

Mas de todo vos quero apresentar a minha posição idealística ou pessoal da “coisa”, bem sabendo que desunir a minha generalizada opinião, da minha visão apaixonada do conceito de amor é por vezes difícil mas não impossível.

Perdoai-me, meu caro, se por vezes me perco nestas divagações fugindo ao que cá nos trás.

Eis que me vislumbro no ponto de fuga do meu caro amigo. Eis que de encontro com o tido, por V. Ex.ª, “equívoco mundano que identifica Fidelidade com Sexualidade”. Eis que mais uma vez perplexo fiquei com tamanhas considerações.

Eis que são de facto dois universos distintos, como o azeite da água, como o caro amigo tão bem soube descrever.

Não me atrevo a acrescentar qualquer dizer a tão doutas palavras que usou para qualificar ambos os conceitos.

Pois seria insensato da minha parte, opor-me a ideias quase que cientificamente tidas.

Contudo o meu atrevimento será em, acrescentar algumas cogitações que considero ter relevo e que não foram tidas na V. tão bela dissertação.

Pois que “assim o é na Natureza onde, com a bênção dos tempos e da lógica imemorial, as bestas copulam movidas apenas pelos instintos mais básicos” e pois que a categoria de racionalidade nos distingue e nos coloca no topo da cadeia animal, dos restantes seres que povoam o nosso (maltratado) planeta Terra.

Contudo, casos há em que mesmo irracionais, desprovidos do discernimento de distinção entre o “correcto e errado, Bem e o Mal, Justo e Injusto”” que caracteriza o Homem, os conceitos tidos pelo caro amigo, como distintos e alheios ao propósito do amor, se revelam nas mais estranhas formas. É o caso, de uma espécie de pinguins (que terá o caro amigo que me perdoar, mas não consigo concretizar a mesma) que vivem uma vida inteira à procura do seu parceiro, e após o encontrarem dedicam os resto dos seus dias aquele único seu igual, tendo como certo que mesmo após “aquela que sempre vem” o levar do mundo dos vivos, a sua dedicação, senão fidelidade, permanecerá até ao final dos seus dias.

Uma verdadeira demonstração irracional do romântico amor, que parte de um animal que creio ser instituído pelos mais diversos instintos naturais.

Colheu V. Ex.ª tamanhos paradoxos e idealismos românticos nas minhas parcas palavras, e apresenta-me então, (perdoai-me o meu português corriqueiro e banal) a eterna desculpa esfarrapada da fidelidade carnal VS fidelidade sentimental.

Baseia-se a “Defesa” do meu caro, na perfeita distinção entre ambos, contudo não é que surge em todo o seu pensamento, a meu ver, um primoroso sentido de egocentrismo?

Crê que agora sou eu que me apresento a interpretar entre linhas dos vossos doutos devaneios, conceitos por vos não tidos?

Caro amigo, vejamos senão estou certo! Sim, de facto, o sentido de fidelidade não se deve cingir ao tido como desejo físico e carnal. É certo dizer, pelo que se apreende da V. exposição, que um indivíduo pode de facto ser fiel a outro mesmo partilhando uma cama com um terceiro.

E inocentemente pergunto-me eu, como se sentira, e creio que não me baseio nos sentidos carnais ou físicos, o “traído”? Vou mais longe, e coloco o caro colega no papel do lado de lá, que sentimento teria o caríssimo, sendo confrontado com o facto da sua cara metade, lhe apresentar o conceito de que se entregou ao desejo carnal com outro, mas que para todos os efeitos, tidos como convenientes no V. ilustre raciocínio, jamais lhe foi infiel, pois que o ama acima de tudo?

Céus, que pode ser um “valor-fruto de um dado amadurecimento moral da sociedade” com origens intimamente ligadas “a critérios religiosos e de sustentabilidade económica-social”, mas creio, meu caro, sabiamente sabido que a dor de tamanho impropério, deslize, ou comummente chamado “pulo na cerca” para a parte contraia é causador de uma grande magoa no coração e alma de quem ama.

E apresenta-me V. Ex.ª como grande exemplo dessas considerações a influência religiosa, onde de um lado o Deus católico, aclama ao respeito, da forma como entende conveniente, (digo eu que pouco sei do assunto, pois não me identifico com tamanha religião) ao impor aos seus fiéis “não cobiçaras a mulher do próximo” ou então o Islamismo, que forma estranha de impor a superioridade do homem face à mulher, que se apresenta em trajes dignos de uma múmia egípcia, onde o homem pode ter as mulher que o dinheiro lhe oferecer, mas a mulher esta subordinada ao seu senhor “feudal”.

Eis um ponto de fuga tão insípido, pois eu que me vejo, não católico nem seguidor de Ala, e identifico-me com o pleno sentido do conceito “ser fiel”. E eis que não me rego por qualquer normativo legal, social ou religioso, apenas e somente baseando a minha posição no bom senso e respeito que tenho com a pessoa que escolher para partilhar a minha vida, claro esta, e muito doutamente há-de o caro amigo argumentar, quem sou eu senão um fruto da sociedade que me criou...

Se de facto, o meu caro amigo, desunindo-se dos mais ternos pilar de respeito, apela ao instinto carnal, pensamento digno dos nossos ancestrais primatas, onde o sexo se desliga por completo do sentimento (facto nunca contrariado na minha posição) correndo o risco de me apelidar de puritano, que o não sou, resta-me dizer-lhe que no amor, alegadamente, criação de Deus, Cronus, Júpiter, Ala, Buda, Shiva, Vénus, ou simplesmente do Homem, enquanto ser dotado de racionalismo bipartido entre a razão e o coração, a infidelidade carnal é de facto um tiro, em que o “ricochete” atinge o nosso bem mais amado.

Pois que se se ama, meu caro, respeita-se, e se se respeita sentimentalmente, que é o mais difícil de resistir, tanto que os nossos sentidos são bombardeados constantemente por milhentas “tentações”, que desculpa poderá ser encontrada para o não respeito carnal e físico?

Ditos como valores morais, aceites e não contestados de uma sociedade que nos envolve ou então religiosos, de um meio que nos consome, ou outro qualquer género? Não me caro. Assim não os vejo! Mas antes como princípios da dignidade que faz de mim o homem que sou, pois se quero e exijo respeito, respeito terei de dar.

Não creia, o caro amigo, em tempo algum que sou contra o sexo, apenas que quem se satisfaz a encontrar variedade sexual em diversos parceiros, e não no que escolheu, então que não escolha, e assim, possa perante os mínimos princípios da dignidade respeito pelo próximo, não causar dano no objecto amado.

Talvez, este que vos fale, seja de facto um eterno romântico… um eterno romântico que crê na unicidade do amor em tudo o que lhe respeita… incluindo a tão aclamada sexualidade, que não vejo como apenas um instinto carnal, mas sim como um desejo que pode ser saciado na pessoa de quem se ama.

Talvez meu caro amigo, seja eu um romântico… mas o que me conforta é que sou um romântico que respeito os meus princípios, entre os quais o respeito que prezo e que pretendo de parte a parte sendo fiel a quem me entrego…

Romântico… ou idealista… é apenas e indiscutivelmente a minha forma de ver…

sexta-feira, 20 de julho de 2007

contestação

Pois que aqui me prostro perante o caríssimo, nú e de ideias apenas feito. Na ânsia da troca e partilha embalado, mais não posso se não agradecer a sua existência, na certeza de um dia destronar a gaveta, aliás sua prezada, onde confina os seus pensamentos.

Desmistificar o casamento em todos os sentidos da palavra, e principalmente atingir o objectivo de traçar a essência dos limites ao mesmo não pode ser assim tão difícil, caro amigo. Tarefa assaz trabalhosa, é certo, a honra de com o meu caro privar e esgrimir argumentos torna vívida a mais leda consciência.

E porque assim o é, antes friso que nada tenho contra o casamento per si. A união de duas existências por critérios não raras vezes alheios à Razão, merece respeito pois no ímpeto reside o íntimo.

O caro amigo propugna, no brilhantismo da sua retórica, a solução segundo a qual o casamento deve ser visto como a "relação entre duas pessoas de quem nutre um sentimento de união recíproca, em que os sentimentos dão azo a uma vida em comum de partilha e enlace onde se aliam os desejos carnais com o inqualificável quimera que se baseia no fantasio romanceio que é amar".

Assaz interessante, meu caro, é o seu frisar da quimera e do fantasio como se, em essência, duvidasse da certeza rígida e sólida com a qual afirma o sentimento de si. Afirma-o como se, em intimidade, duvidasse do Amor optando, não obstante, por o afirmar. Paradoxal? Não, de todo!! É apenas a típica benção que paira sobre os românticos: aquela de toldar a Razão e fazer cair sobre eles o fino e confortável véu da ignorância.

Adiante que agora devaneios não colhem.

Opõe-nos a premência do valor FIDELIDADE na sua vertente de limite conjugal. O caro amigo embarca no equívoco mundano que identifica Fidelidade com Sexualidade. São dois universos distintos embora, na conjugalidade, possam ter, é certo, zonas nebulosas de sobreposição.

A SEXUALIDADE, enquanto prática humana telúrica, inata,imanente e natural, radica na própria essência animal da individualidade. Os ímpetos procriativos, mais ou menos animados pelo hedonismo de vertente sexual, estão no cerne do nosso volitivo instinto sexual. A sexualidade é, pois e em essência, uma obra em bruto ainda por trabalhar, cujos critérios surgem apenas a jusante, definidos pelo amadurecer de padrões normativos sociais e morais. A sua vivência é, por definição, independente de qualquer critério reflexivo ou meramente sentimental: assim o é na Natureza onde, com a benção dos tempos e da lógica imemorial, as bestas copulam movidas apenas pelos instintos mais básicos.

A FIDELIDADE, por seu turno, é um valor-fruto de um dado amadurecimento moral da sociedade. A sua origem está fortemente ligada a critérios religiosos e de sustentabilidade económico-social. No domínio religioso em geral a monogamia é vista como forma de um dos cônjuges ter capacidade de sustento do outro cônjuge. Assim o é no Cristianismo onde "não cobiçar a mulher do próximo" traduz mais uma premissa de manutenção de um certo status quo social - rectius segurança no trato social -do que propriamente uma defesa suprema dos vínculos amorosos eventualmente existentes; Assim o é, também, no Islamismo onde a monogamia é derrogada sempre que o elemento masculino possa sustentar mais que uma mulher. A monogamia não se fica por aqui. Assim o era, por exemplo, na mitologia clássica de explicação da Razão das Cousas: Urano unira-se somente a Geia, o Céu e aTerra, para dar ao Universo seus filhos Cronos e Témis, o Tempo e a Justiça.

Este ideário de perfeição monogâmica é - insisto - uma construção valorativa que nada deve à ratio essendi das cousas. É, tão somente, a ânsia criativa do homem na vontade de enformar as sociedades, tipificando comportamentos e, concomitantemente, estabelecendo o correcto e o errado, o Bem e o Mal, o Justo e o Injusto, buscando-se na previsibilidade e certeza das actuações dos indivíduos a segurança necessária à subsistência de uma sociedade.

Acresce a este vontade de segurança e previsibilidade social, o pânico do indivíduo pelo fortuito, pelo desconhecido e pelo ocaso da sua existência. A solidão, indelével certeza com que Cronos nos baptizou, joga aqui o papel de catalisador do receio, empurrrando o ser na busca de certezas mesmo que toldadoras da Liberdade. A morte combate-se na certeza de alguém se lembrar de nós e nos chorar a perda, na fidelidade de um sentimento.

E ei-lo, meu caro, assaz cristalino o fio condutor do meu raciocínio: é ao sentimento que importa lealdade e fidelidade. E, no campo do sentir, as emoções extravazam em muito o mero prazer carnal. Sobrestimar o aspecto sexual é subestimar aquilo que em nós 'stá sentindo.

SONETO DA FIDELIDADE


De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Os limites do casamento – uma análise hermenêutica

By

Dr. Max and Dr. Simão


Prologo

Ora por desatinos (da minha parte) e claro está, devaneios (da parte do meu ilustre colega), fui deliberadamente desafiado pelo Dr. Dogner a embarcar numa aventura extravagante por um universo desconhecido e estranho mesmo para quem nele se deixa repousar diariamente.

Antes de mais, devo dizer-lhe, meu douto amigo, que não posso deixar de considerar ingrato, em primeiro lugar devido à experiência de V. Ex.ª por este mundo da escrita, que modéstia á parte, é de facto notável, perante a minha pessoa, que para além de eterno romântico em tudo o que escrevo, confino todos os meus dizeres ao fundo daquela gaveta aliada que tanto prezo. Contudo, que fique claro, que não me vou deixar intimidar pela V. sempre única, e um tanto altiva, forma com que se nos dirige, e tanto nos agrada, abraçarei o presente duelo (para não dizer guerra), de braços abertos e ciente que numa batalha semelhante há que saber inovar.

Por outro lado, não bastando a pouca ou nula experiência que tenho, no mundo dos blog’s, em expor-me a nu em qualquer sentido, ainda teria de me entregar de bandeja o privilégio melindroso de iniciar esta verdadeira chicana de desatinos e devaneios debruçados sobre um tema que sempre será polémico e perfeitamente estudado ao logo dos nossos tempos.

Desmistificar o casamento em todos os sentidos da palavra, e principalmente atingir o objectivo de traçar a essência dos limites ao mesmo. Céus, onde estaria eu com a cabeça ao aceitar esta guerra, principalmente se pensarmos que ambos os que aqui se apresentam, não são de facto casados, nem pouco mais ou menos.

Mesmo assim, um bom desafio nunca é de se negar, deste modo, apresento os meus mais calorosos votos de uma boa batalha ao caro amigo, e claro está que desde que não se arranquem orelhas, vale tudo! ;)

Cá vamos então: o casamento VS seus limites!

Antes de tudo o que se possa referir há que ter em conta dois conceitos completamente distintos e no entanto abatidos no mesmo centro.

Definir o casamento, ora se procurarmos num dicionário de língua portuguesa, casamento seria algo como o vínculo estabelecido entre duas pessoas mediante o reconhecimento governamental, religioso e/ou social, que pressupõe uma relação interpessoal de intimidade, cuja representação arquetípica seriam obviamente relações sexuais. Para já não falar nos conceitos subjacentes como o amor, o carinho, companheirismo, entre outros.

Por outro lado temos, e não fossemos nós homens versados na lei, o conceito apresentado pela nossa lei civil que dita no seu artigo 1577.º do Código Civil Português que: “Casamento é o contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida, nos termos das disposições deste Código.”

E, qui sa, não podemos nos, sendo senhores do século XXII, o terceiro milénio D.C. acrescentar algo ao conceito, onde casamento será visto como a relação entre duas pessoas de quem nutre um sentimento de união recíproca, em que os sentimentos dão azo a uma vida em comum de partilha e enlace onde se aliam os desejos carnais com o inqualificável quimera que se baseia no fantasio romanceio que é amar. Isto aliado às doutas palavras de Jean Rostand que nos diz: “Um bom casamento seria aquele em que esqueceríamos, de dia que somos amantes e de noite que somos espososteríamos o resultado da unificação perfeita entre dois seres, uma versão mais platónica da coisa.

Não vamos mais longe, afinal de contas o “casamento é a mais rica aventura humana” ou não?

Se não tens tempo nem oportunidade para consagrar uma dezena de anos da tua vida a uma viagem em volta do mundo para observar tudo o que um circunavegador pode aprender; se te falta, por não teres estudado por muito tempo as línguas estrangeiras, os dons e os meios de te iniciar nas mentalidades diversas dos povos que se revelam aos cientistas; se não pensas em descobrir um novo sistema astronómico que suprima o de Copérnico, bem como o de Ptolomeu - então, casa-te; e mesmo que tenhas tempo para viajar, dons para os estudos e a esperança de fazer descobertas, casa-te do mesmo modo. Tu não te arrependerás, ainda que isso te impeça de conheceres todo o Globo terrestre, de te exprimires em muitas línguas e de compreenderes o espaço celeste; pois o casamento é e continuará a ser a viagem da descoberta mais importante que o homem pode empreender; qualquer outro conhecimento da vida, comparado ao de um homem casado, é superficial, pois ele e só ele penetrou verdadeiramente na existência.Emmanuel Kant, in Considerações sobre o Casamento em Resposta a Objecções.

Bem, mas deixemo-nos de divagações, pois tudo isto já foi discutido e variadas vezes apreciado.

O que realmente nos apraz aqui hoje serão os limites a esse dito “casamento”. Esquecendo o conceito, aquando se fala de casamento, de união, há que esperar no mínimo uma promessa, uma juramento, uma atitude reveladora de mostrar confiança, pois em qualquer relação se espera que reine a confiança, e abarcada a esse pilar, virá o dever de fidelidade.

Sim, esta é a posição que assumo incondicionalmente, e que me prevê ser o ponto mais caótico da presente “guerra”.

A fidelidade, seja ele um assentimento expresso ou tácito é presença fidedigna para a sobrevivência de qualquer relação. No domínio da convivência conjugal ou similar, fica subjacente a necessidade de manter um certo tipo de acordo, chamemos-lhe contrato mesmo, independentemente de se desvendar numa conveniência mútua ou de mútuos interesses, ou até mesmo acomodação, comodismo, medo da solidão o que for, este é deveras um pilar primordial para a sobrevivência em conjunto. Não fosse o respeito “pelo outro” o principal tijolo da fidelidade.

Aquando se é jovem, e a vida nos parece apenas se focar em dois dias que devem a todo o custo ser apreciados e explorados de todas formas e feitios, sei bem do que falo, pois considero-me o típico jovem verdejante, há sempre aquela ideia que a experiência dura e pura é um passo para o conhecimento e amadurecimento, o que para ser verdadeiro até não deixa de ser verdade, contudo há sempre que saber os limites. E não será o principal limite, aquela grandeza constante, da qual outra pode aproximar-se indefinidamente mas sem nunca a atingir, o da fidelidade?

Terei que fazer aqui de advogado do diabo e encostar mesmo entre a espada e a parede: e se for ao contrário? Talvez seja mais fácil consideramos que a fidelidade é, de facto, uma conditio sine qua non da nossa cara-metade, exacto? Então porque não pôr a hipótese de o que esperamos nos é igualmente esperado?

Claro poderia ser refutado com a ideia triste de que: “há relações e relações!” E claro que me vejo obrigado a responder de forma mais, digamos arrogante, mas isso é um perfeito disparate, pois independente do que sentimos do lado de lá esta uma pessoa, que vive, respira e sente como nós, e que merece o nosso respeito, respeito este que numa relação se funde indivisivelmente com a tão falada fidelidade.

Falar nos limites ao casamento, que se consagra numa relação conjunta e pacificamente aceite na maioria das culturas como sendo bilateral, há que, sem duvida alguma, aceitar que a fidelidade é pois o seu princípio basilar.

Que outros limites poderíamos nós considerar superiores a este? Claro existem outros, mas da suma importância que o mesmo assume não creio vir a encontrar argumentos que igualem.

Bem, penso que vou ficar por aqui, até mesmo porque não quero gastar todos os cartuchos, isto é apenas o começo.

Dr. Dohner, diga-me de sua justiça, ou antes, é caso para dizer! Quid iuris!

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