Curioso me sinto, e arrastado por esta capacidade natural e inata da inquiribilidade, comum por variadas espécies animais, e que no ser humano, animal racional, se engendra na necessidade de exploração, investigação e no aprendizado (aos quais se poderiam justamente “casar” à já aclamada contestação, pois que a curiosidade poderá brotar da necessidade de apreciar criticamente um pensamento como o do meu caro), me obrigo a de forma minuciosa a explorar tamanhas doutas considerações que o meu caro amigo tão formosamente teceu.
Mas, de igual modo, todo este meu desejo insaciável de exploração como se de um ventre estrelar, (que de uma imensa nuvem escura somente iluminada pela ténue luz estrelar flutua num espaço vazio e pouco a pouco, em parte por azar e em parte por uma pequena acção gravitacional, a elegante nuvem de gás começa a condensar-se ao redor de um ponto de maior densidade e num processo lento, que pode durar vários milhares de anos, no interior dessa mesma nuvem encontramos uma bola incandescente vinte vezes maior que o sol e cem vezes mais brilhante que o mesmo, onde o calor no seu interior é suficiente para produzir reacções única e indescritíveis dando-se uma verdadeira explosão e acabando assim de nascer uma estrela) se tratasse, imensas, como as gotas de chuva de uma tempestade, são as questões que me suscitam a V. prezada resposta.
Estou certo e perfeitamente sabido, que a maior parte das mesmas seriam tidas por simples pormenores, arestas sem importância que o caro colega me acusaria de usar apenas para atiçar uma peleja que tão cortês se adivinha. Daí que, mesmo movido pelo sentido de admiração, passarei em branco qualquer pragana que não julgue de relevo à presente querela.
Contudo, na qualidade de juristas que “infelizmente somos”, há coisas, caro colega, que devo dizer serem alheias ao meu auto controlo.
Ora intitula V. Ex.ª a V. prezada resposta de “Contestação”. Creio de facto que embora encontre o V. carácter contestatário o mesmo deixa algo a desejar, refugiando-se apenas, por entre pulcras palavras, em conceitos opostos que tenta fundir desmesuradamente como sendo parte de um todo que se cinge ao instinto natural animalisco do ser humano.
Creio que o caro colega desperdiçou tamanhos argumentos que poderiam ser colhidos das minhas palavras desnecessariamente, o que a meu ver o foi intencional, apenas por mera prudência pois que melhor táctica guerrilheira que não testar o inimigo com uma mera apresentação do que lhe espera.
Neste sentido, irei, como me compete, desflorar o ideal apresentado pelo caríssimo, da forma mais concreta e nítida que se prevê necessária para a continuação deste duelo tão digno, não fosse a presença imperante do conceito de “Omerta” siciliano presente em todas ideias que aqui se espelham.
Fui brutalmente, com a sempre presente delicadeza de retórica que tão sabiamente caracteriza o meu caro, bombardeado, mas levemente atingido. Caminhou o amigo, por marés e mares tempestivos que se prendem na minha caracterização simbólica como “quimera e fantasio” do amor, fazendo crer, que nas minhas alegadas “entre linhas”, existisse uma marcante duvida ao fluir mágico de sentimento tão idolatrado por poetas e pensadores ao logo dos tempos.
Creio não ser essa a minha posição, alias controverso seria se assim o fosse, como que alguém capaz de pregar na crença pela entrega total e única a uma pessoa (leia-se de cada vez) afim de preservar o conceito de fidelidade e respeito para com o ser amado, jamais poderia ser “anti-amor”.
“Que mais bela prova de amor, senão os meus lábios só tocarem os teus? Que mais bela prova de amor de que o meu corpo só conheca o calor do teu? Que mais bela prova de amor, que o meu coração só bata junto ao teu?” Autor Desconhecido.
Romântico? Sim, confesso, na plenitude do meu ser, creio em simbolismos como o “amor eterno”, o “amor à primeira vista” entre tamanhos outros, que de facto são usados de forma errónea com fins consumistas e buscam por vezes alimentar comportamentos doentios. Contudo, meu caro, que bem na vida existe que não tenha duas faces como uma moeda? Em que a beleza se alia à negativismo do seu excesso.
Porquanto, aclamar-me ou não romântico em tamanha discussão não creio ter sentido algum ou importância. Pois se em momento algum assim me afirmei, e não me vendo ter falhado em abstrair-me desse meu sentido, um tanto “platónico”, poder-se-á dizer, indirectamente o meu caro, fez questão de me proclamar de eterno romântico.
Creio no amor, é um facto, creio no respeito, outro o é, e creio que quando se tem alguém do nosso lado merecedor do nosso amor, há então que respeitar, e dai que a fidelidade seja um pilar a esta ideia.
Mas de todo vos quero apresentar a minha posição idealística ou pessoal da “coisa”, bem sabendo que desunir a minha generalizada opinião, da minha visão apaixonada do conceito de amor é por vezes difícil mas não impossível.
Perdoai-me, meu caro, se por vezes me perco nestas divagações fugindo ao que cá nos trás.
Eis que me vislumbro no ponto de fuga do meu caro amigo. Eis que de encontro com o tido, por V. Ex.ª, “equívoco mundano que identifica Fidelidade com Sexualidade”. Eis que mais uma vez perplexo fiquei com tamanhas considerações.
Eis que são de facto dois universos distintos, como o azeite da água, como o caro amigo tão bem soube descrever.
Não me atrevo a acrescentar qualquer dizer a tão doutas palavras que usou para qualificar ambos os conceitos.
Pois seria insensato da minha parte, opor-me a ideias quase que cientificamente tidas.
Contudo o meu atrevimento será em, acrescentar algumas cogitações que considero ter relevo e que não foram tidas na V. tão bela dissertação.
Pois que “assim o é na Natureza onde, com a bênção dos tempos e da lógica imemorial, as bestas copulam movidas apenas pelos instintos mais básicos” e pois que a categoria de racionalidade nos distingue e nos coloca no topo da cadeia animal, dos restantes seres que povoam o nosso (maltratado) planeta Terra.
Contudo, casos há em que mesmo irracionais, desprovidos do discernimento de distinção entre o “correcto e errado, Bem e o Mal, Justo e Injusto”” que caracteriza o Homem, os conceitos tidos pelo caro amigo, como distintos e alheios ao propósito do amor, se revelam nas mais estranhas formas. É o caso, de uma espécie de pinguins (que terá o caro amigo que me perdoar, mas não consigo concretizar a mesma) que vivem uma vida inteira à procura do seu parceiro, e após o encontrarem dedicam os resto dos seus dias aquele único seu igual, tendo como certo que mesmo após “aquela que sempre vem” o levar do mundo dos vivos, a sua dedicação, senão fidelidade, permanecerá até ao final dos seus dias.
Uma verdadeira demonstração irracional do romântico amor, que parte de um animal que creio ser instituído pelos mais diversos instintos naturais.
Colheu V. Ex.ª tamanhos paradoxos e idealismos românticos nas minhas parcas palavras, e apresenta-me então, (perdoai-me o meu português corriqueiro e banal) a eterna desculpa esfarrapada da fidelidade carnal VS fidelidade sentimental.
Baseia-se a “Defesa” do meu caro, na perfeita distinção entre ambos, contudo não é que surge em todo o seu pensamento, a meu ver, um primoroso sentido de egocentrismo?
Crê que agora sou eu que me apresento a interpretar entre linhas dos vossos doutos devaneios, conceitos por vos não tidos?
Caro amigo, vejamos senão estou certo! Sim, de facto, o sentido de fidelidade não se deve cingir ao tido como desejo físico e carnal. É certo dizer, pelo que se apreende da V. exposição, que um indivíduo pode de facto ser fiel a outro mesmo partilhando uma cama com um terceiro.
E inocentemente pergunto-me eu, como se sentira, e creio que não me baseio nos sentidos carnais ou físicos, o “traído”? Vou mais longe, e coloco o caro colega no papel do lado de lá, que sentimento teria o caríssimo, sendo confrontado com o facto da sua cara metade, lhe apresentar o conceito de que se entregou ao desejo carnal com outro, mas que para todos os efeitos, tidos como convenientes no V. ilustre raciocínio, jamais lhe foi infiel, pois que o ama acima de tudo?
Céus, que pode ser um “valor-fruto de um dado amadurecimento moral da sociedade” com origens intimamente ligadas “a critérios religiosos e de sustentabilidade económica-social”, mas creio, meu caro, sabiamente sabido que a dor de tamanho impropério, deslize, ou comummente chamado “pulo na cerca” para a parte contraia é causador de uma grande magoa no coração e alma de quem ama.
E apresenta-me V. Ex.ª como grande exemplo dessas considerações a influência religiosa, onde de um lado o Deus católico, aclama ao respeito, da forma como entende conveniente, (digo eu que pouco sei do assunto, pois não me identifico com tamanha religião) ao impor aos seus fiéis “não cobiçaras a mulher do próximo” ou então o Islamismo, que forma estranha de impor a superioridade do homem face à mulher, que se apresenta em trajes dignos de uma múmia egípcia, onde o homem pode ter as mulher que o dinheiro lhe oferecer, mas a mulher esta subordinada ao seu senhor “feudal”.
Eis um ponto de fuga tão insípido, pois eu que me vejo, não católico nem seguidor de Ala, e identifico-me com o pleno sentido do conceito “ser fiel”. E eis que não me rego por qualquer normativo legal, social ou religioso, apenas e somente baseando a minha posição no bom senso e respeito que tenho com a pessoa que escolher para partilhar a minha vida, claro esta, e muito doutamente há-de o caro amigo argumentar, quem sou eu senão um fruto da sociedade que me criou...
Se de facto, o meu caro amigo, desunindo-se dos mais ternos pilar de respeito, apela ao instinto carnal, pensamento digno dos nossos ancestrais primatas, onde o sexo se desliga por completo do sentimento (facto nunca contrariado na minha posição) correndo o risco de me apelidar de puritano, que o não sou, resta-me dizer-lhe que no amor, alegadamente, criação de Deus, Cronus, Júpiter, Ala, Buda, Shiva, Vénus, ou simplesmente do Homem, enquanto ser dotado de racionalismo bipartido entre a razão e o coração, a infidelidade carnal é de facto um tiro, em que o “ricochete” atinge o nosso bem mais amado.
Pois que se se ama, meu caro, respeita-se, e se se respeita sentimentalmente, que é o mais difícil de resistir, tanto que os nossos sentidos são bombardeados constantemente por milhentas “tentações”, que desculpa poderá ser encontrada para o não respeito carnal e físico?
Ditos como valores morais, aceites e não contestados de uma sociedade que nos envolve ou então religiosos, de um meio que nos consome, ou outro qualquer género? Não me caro. Assim não os vejo! Mas antes como princípios da dignidade que faz de mim o homem que sou, pois se quero e exijo respeito, respeito terei de dar.
Não creia, o caro amigo, em tempo algum que sou contra o sexo, apenas que quem se satisfaz a encontrar variedade sexual em diversos parceiros, e não no que escolheu, então que não escolha, e assim, possa perante os mínimos princípios da dignidade respeito pelo próximo, não causar dano no objecto amado.
Talvez, este que vos fale, seja de facto um eterno romântico… um eterno romântico que crê na unicidade do amor em tudo o que lhe respeita… incluindo a tão aclamada sexualidade, que não vejo como apenas um instinto carnal, mas sim como um desejo que pode ser saciado na pessoa de quem se ama.
Talvez meu caro amigo, seja eu um romântico… mas o que me conforta é que sou um romântico que respeito os meus princípios, entre os quais o respeito que prezo e que pretendo de parte a parte sendo fiel a quem me entrego…
Romântico… ou idealista… é apenas e indiscutivelmente a minha forma de ver…